O Cerrado e sua restauração

Clima do Cerrado

Temperaturas médias anuais altas e marcadas estações de chuva e seca: Conheça o clima do Cerrado!​

O Cerrado tem duas estações bem definidas: uma chuvosa, que acontece entre setembro e outubro até março e abril, com os meses de novembro, dezembro e janeiro como os de maior média mensal de precipitação, e outra estação seca, com redução drástica das chuvas. A estação seca proporciona profunda deficiência hídrica, se inicia entre abril e maio e continua até setembro ou outubro e é muito importante sob o aspecto ecológico, estabelecendo as espécies vegetais tolerantes a essa condição no Cerrado.

Apesar da variação de estações de chuva e seca ser uma característica observável em todo Cerrado, ela não ocorre de forma igual em toda a sua extensão. A porção do Cerrado limítrofe com a Região Semi-Árida (sul do Piauí, sudoeste da Bahia e norte de Minas Gerais) registra as mais baixas taxas de precipitação e mais alta deficiência hídrica de todo o Cerrado.

As médias das temperaturas máximas no Cerrado variam entre 24°C e 33°C, sendo as mais elevadas registradas na primavera-verão – de 24°C a 36ºC. O bioma tem também uma variação nas médias de temperatura ao longo de seu território, com tendência de aumento no sentido sul–norte e, portanto, os mais altos valores nos estados do Maranhão, do Piauí e de Mato Grosso, enquanto os valores mais baixos acontecem nos estados de Minas Gerais, de Goiás e de Mato Grosso do Sul.

Da mesma forma, nos meses de outono-inverno, as médias mais baixas de temperatura são registradas nos estados de Minas Gerais, de Goiás e de Mato Grosso do Sul – 14°C a 18°C. As demais áreas do Cerrado apresentam temperaturas mínimas anuais de 19°C a 23°C.

O Cerrado apresenta moderada umidade relativa do ar se comparado com o litoral e a Amazônia. Durante os meses mais chuvosos, a umidade relativa do ar varia de 60% a 90%. No período outono-inverno, quando ocorre a seca em grande parte do Cerrado, essa umidade tem grande queda, sendo que agosto e setembro apresentam os menores índices. O Distrito Federal e partes de Goiás, Minas Gerais, Bahia e Piauí, apresentam os menores índices da umidade relativa do ar do Cerrado, com valores entre 40% e 60%.

Segundo essas principais características, invernos secos e verões chuvosos, o clima do Cerrado é classificado predominantemente como Aw, tropical chuvoso, segundo a escala de Köppen.

Mais informações em:
https://www.embrapa.br/cerrados/busca-de-publicacoes/-/publicacao/570911/cerrado-ecologia-e-flora

Fogo e o Cerrado

O Cerrado tem estações seca e chuvosa bem definidas. Raios podem causar incêndios naturais ao atingir a vegetação seca do Cerrado. Esses incêndios naturais, entretanto, tendem a ter pequenas proporções, causando poucos danos às árvores adaptadas a essa condição e até mesmo auxiliando na ciclagem de nutrientes, na reprodução de algumas plantas, e na prevenção de incêndios maiores ao retirar parte do capim seco acumulado. Por outro lado, queimadas causadas de forma não intencional, ou mal planejadas e executadas por proprietários de terras,  podem atingir grandes proporções e causar danos sérios à vegetação e à fauna do Cerrado. Assim, para o uso do fogo em propriedades no Cerrado, é necessária autorização do órgão ambiental competente e a preparação de um plano de Manejo Integrado do Fogo. Este plano deve considerar aspectos ecológicos, culturais e de manejo para propor uso de queimas controladas e a prevenção e o combate a incêndios severos, garantindo a conservação e o uso sustentável das áreas do Cerrado.

Manejo do Fogo em Áreas Protegidas.  
https://doi.org/10.37002/biodiversidadebrasileira.v1i2

O Fogo e o Cerrado. Yana Marull Drews, Angela Barbara Garda, João Paulo Morita, Christian Niel Berlinck. Brasília, 2015, 30p, il.
https://www.icmbio.gov.br/educacaoambiental/images/stories/biblioteca/educacao_ambiental/livro-o_fogo_e_o_cerrado-vfmenor.pdf

Fitofisionomias do Cerrado

Em cada bioma há um tipo de vegetação ou fitofisionomia predominante, que ocupa a maior parte da área, e que é determinada primariamente pelo clima. Mas para além do clima, o solo, a disponibilidade de água e nutrientes, a geomorfologia e a topografia têm efeitos sobre a vegetação e influenciam as diferentes fitofisionomias.
© Felipe Ribeiro / EMBRAPA

Mas o que quer dizer “fitofisionomia”?

Fitofisionomia é a primeira impressão causada por uma vegetação. É o tipo de vegetação que ocupa uma área específica e que tem uma composição definida de espécies vegetais dominantes, e um clima particular (1). Como o nome já diz: ela é a fisionomia, a formação mais aparente da vegetação de uma área reconhecida. Em outras palavras, a “cara” do ambiente local!

O Cerrado é um bioma tão extenso quanto complexo. Assim, para sua região são definidos 11 tipos principais de vegetação categorizadas como: formações florestais (Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão), savânicas (Cerrado sentido restrito, Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda) e campestres (Campo Sujo, Campo Limpo e Campo Rupestre). Além destas, outros subtipos completam as 25 fitofisionomias reconhecidas no Cerrado (2).

Formações Florestais do Cerrado

São principalmente formadas por espécies arbóreas, formando um dossel contínuo, ou seja, uma área toda coberta por copas de árvores de forma mais ou menos regular.

Mata Ciliar: tipo florestal que se desenvolve nas margens dos rios de médio e grande porte do Cerrado. Ela é relativamente estreita e é composta por árvores caducifólias, que perdem as folhas nos períodos de seca, entremeadas por outras árvores que se mantém sempre verdes. Algumas árvores da mata ciliar do Cerrado: Angico (Anadenanthera spp.), Jerivá (Syagrus romanzoffiana), Ingá (Inga spp.).

Mata de Galeria: tipo florestal que se desenvolve nas margens dos rios de pequeno porte. Em virtude da pouca distância entre as margens vegetadas as copas das árvores se encontram sobre o corpo d’água formando túneis, ou galerias, que dão nome a esta formação florestal. É formada por espécies perenifólias, que não perdem as folhas durante a seca, sendo, portanto, uma mata que retém mais umidade e abriga muitas epífitas, com a maior diversidade de orquidáceas de todo Cerrado. A mata de galeria ainda se subdivide em duas categorias, a inundável e a não-inundável, e é usualmente seguida por área não florestada. Exemplos de integrantes da mata de galeria são: Copaíba (Copaifera langsdorffii), Jatobá (Hymenaea courbaril), Palmito-jussara (Euterpe edulis).

Mata Seca: formação de floresta do Cerrado que não está associada a um curso d’água. Este tipo de mata é também categorizado de acordo com a deciduidade das espécies arbóreas que a compõe, ou seja, se é formada por árvores que perdem ou não as suas folhas durante o período de seca: Mata Seca Sempre Verde, Mata Seca SemiDecídua, Mata Seca Decídua. São árvores observadas na Mata Seca do Cerrado: Imburana (Amburana cearenses), Canjerana (Cabralea canjerana), Ipê (Tabebuia spp.).

Cerradão: formação florestal do Cerrado que apresenta características esclerófitas, que são aquelas específicas de ambientes áridos. O Cerradão é formado por um sub-bosque de arbustos e ervas, juntamente com espécies de árvores que ocorrem na Mata Seca Semidecídua e Mata de Galeria. A mata do Cerradão é, portanto, uma mata de porte mais baixo e dossel mais aberto mesmo nos períodos chuvosos, e é composta por espécies de ocorrência no cerrado sentido restrito. Exemplos de árvores do Cerradão são: Pequi (Caryocar brasiliense), Barú (Dipteryx alata), Maria-pobre (Dilodendron bippinatum). E exemplos de arbustos do Cerradão: Café-bravo (Casearia sylvestris) e Quaresma-branca (Miconia albicans).

Formações Savânicas do Cerrado

Vegetação majoritariamente herbácea e arbustiva, com árvores esparsas, e adaptada ao clima seco estacional, com longos e marcados períodos de deficiência hídrica.

Cerrado Sentido Restrito: formação que apresenta tanto espécies arbóreas, quanto arbustivas e herbáceas, mas sem que as árvores formem um dossel contínuo, ou seja, a contínua união de suas copas. As árvores encontradas nessa fitofisionomia são baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas, evidenciando as queimadas naturais sofridas no Cerrado, e muitos dos arbustos e subarbustos apresentam órgãos subterrâneos perenes (xilopódios), que permitem que brotem novamente depois da queima ou corte. Outras características especiais relacionadas com a seca e resistência a queimadas são encontradas em muitas espécies vetais que ocorrem nessa formação como crescimento rápido, tronco com casca espessa de cortiça, folhas rígidas ou coriáceas, raízes profundas. O Cerrado sentido restrito é subdividido de acordo com a densidade de árvores e arbustos que o compõe:  Cerrado Denso, Cerrado Típico, Cerrado Ralo e Cerrado Rupestre. Exemplos de árvores do Cerrado Sentido Restrito: Araticum (Annona coriácea), Paineira-do-Cerrado (Eriotheca gracilipes), Jatobá-do-Cerrado (Hymenaea stigonocarpa).

Parque de Cerrado: formação que tem árvores agrupadas em pequenas elevações do terreno que são algumas vezes imperceptíveis e em outras ocorrem de forma bem destacada, conhecidas como “murundus” ou “monchões”. A flora que ocorre nos murundus é similar à que ocorre no Cerrado sentido restrito, mas concentra principalmente as espécies que aceitam melhor a saturação hídrica sazonal do solo.

Palmeiral: formação savânica caracterizada pela presença marcante de uma única espécie de palmeira arbórea, enquanto as árvores de outras espécies (dicotiledôneas) têm ocorrência esporádica. O Palmeiral também possui quatro subtipos principais, determinados pela espécie dominante de palmeira: Babaçual, Buritizal, Guerobal e Macaubal.

Vereda: formação também caracterizada pela presença dominante de uma única espécie de palmeira, o buriti (Mauritia flexuosa), mas onde esta ocorre em menor densidade do que na fitofisionomia Palmeiral. A Vereda é circundada por agrupamentos de vegetação arbustiva-herbácea característica.

Formações Campestres do Cerrado

Vegetação principalmente herbácea, além de espécies arbustivas mais ou menos frequentes, sem árvores integrando a paisagem. Plantas características das formações campestres do Cerrado são o Chuveirinho (Paepalanthus spp.), o Capim-dourado (Syngonanthus nitens), o Capim-estrela (Rhynchospora speciosa), a Canela-de-ema (Vellozia squamata).

Campo Sujo: formação conhecida como arbustiva-herbácea, onde os arbustos e subarbustos se desenvolvem entre as plantas herbáceas. Algumas árvores que ocorrem no Cerrado Sentido Restrito podem também aparecer no Campo Sujo, porém menos desenvolvidas e com porte de arbustos.

Campo Limpo: formação dominada por plantas herbáceas, com raros arbustos ocorrendo dispersos e sem a presença de árvores. O Campo Limpo é encontrado com mais frequência nas encostas, nas chapadas, nos olhos d’água, circundando as Veredas e na borda das Matas de Galeria.

Campo Rupestre: formação campestre intermediária entre o Campo Sujo e o Campo Limpo. É formado por plantas herbáceas, com locais de agrupamento de vegetação arbustivas e pequenas árvores encontradas de forma esparsa. O Campo Rupestre é também caracterizado pela presença de afloramentos de rocha e por ser composto por um elevado número de espécies vegetais endêmicas, que ocorrem somente nesta região.

Referências bibliográficas
– COUTINHO, L. M. 2006. O conceito de bioma. Acta Botanica Brasilica, Brasília, v. 20, n. 1, p. 13-23. https://doi.org/10.1590/S0102-33062006000100002

– EMBRAPA. Bioma Cerrado. Disponível em: https://www.embrapa.br/cerrados/colecao-entomologica/bioma-cerrado

– RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T. 1998. Fitofissionomias do bioma Cerrado. Embrapa Cerrados. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/554094/fitofisionomias-do-bioma-cerrado

– SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. de; RIBEIRO, J. F. 2008. Cerrado: ecologia e flora. Embrapa. Disponível em: https://www.embrapa.br/cerrados/busca-de-publicacoes/-/publicacao/570911/cerrado-ecologia-e-flora

A Fauna do Cerrado

O bioma do cerrado é o terceiro com maior diversidade de fauna, depois da Amazônia e da Mata Atlântica, segundo o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). 

É estimada a presença de aproximadamente 320.000 espécies de animais para o Cerrado, com o maior número de espécies registrado para o grupo dos insetos (Dias, 1992). Dentre os animais vertebrados, levantamentos do ISPN apontam a presença de 252 espécies de mamíferos, 864 de aves, 180 de répteis, 210 de anfíbios e 1200 de peixes. 

Apesar de muito diversa, a fauna do Cerrado ainda é considerada pouco conhecida, pois muitas áreas ainda não foram bem investigadas e inventariadas, deixando em aberto a possibilidade de que novas espécies venham a ser descritas ou que ainda mais espécies tenham sua ocorrência registrada nesse bioma tão especial.

Infelizmente, atualmente, a diversidade de espécies animais do Cerrado está sob ameaça de sofrer redução, o que quer dizer que muitas espécies de animais que sempre habitaram o bioma não vão seguir vivendo nesse local. As principais ameaças à biodiversidade do Cerrado são a perda e a fragmentação de hábitat por ação humana, a exploração excessiva dos recursos naturais do mesmo, a poluição e a introdução de espécies exóticas. 

Espécies exóticas?

As espécies exóticas são aquelas que estão ocorrendo em localidades diferentes das que ocorriam naturalmente, tendo sido trazidas por alguma ação humana. Elas são um grande risco para a biodiversidade, não somente no Cerrado, pois competem por recursos básicos à subsistência com as espécies da fauna e da flora nativas, aquelas que sempre ocorreram naquele local, alteram o ambiente original, além de poderem trazer doenças que não existiam naquela região anteriormente. 

Pelo menos 137 de suas espécies animais estão sob algum grau de ameaçadas de extinção.

Vamos conhecer alguns dos representantes mais típicos do bioma Cerrado?

Lobo-guará

O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é o animal mais lembrado quando se pensa em fauna do Cerrado. Esse canídeo de grande porte, pesando cerca de 30 Kg e atingindo até 1,6m (UFRGS – fauna digital), tem pernas compridas, orelhas longas e pelagem marrom-avermelhada. Adaptações perfeitas para o deslocamento e camuflagem na savana do Cerrado, apesar de este lobo simpático circular também por outras áreas do nosso país. Ele é um animal solitário, muito esquivo, noturno, e que se alimenta principalmente de pequenos animais invertebrados e vertebrados, além de muitos frutos do Cerrado, ajudando inclusive a dispersar sementes em suas fezes. O lobo-guará está classificado como uma espécie ameaçada de extinção tanto nacionalmente quando nos diferentes estados em que ocorre.

Mais informações em:
– Fauna RS. Disponível em: 
https://www.ufrgs.br/faunadigitalrs/mamiferos/ordem-carnivora/familia-canidae/lobo-guara-chrysocyon-brachyurus/

– Nat Geo. Quais são os principais animais do Cerrado brasileiro? Disponível em:
https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2023/03/quais-sao-os-principais-animais-do-cerrado-brasileiro

Carcará

O carcará, Caracara plancus, é uma das aves de rapina mais conhecidas aqui do Brasil. Ela ocorre em todos os biomas brasileiros estando mais associada a áreas abertas e, justamente por isso, pode ser visto também em parques e campos dentro das cidades. O carcará é grande e forte – pouco mais de 50cm e quase 1Kg – pode andar sozinho, ou em bandos e come de tudo, inclusive carcaças de animais mortos que encontrar por aí. Por perseguir e se alimentar de diversos animais de pequeno porte, o carcará ganhou uma fama de mau que lhe rendeu até uma música. Aqueles que curtem MPB devem conhecer: “Carcará, pega, mata e come!” (João do Vale/ José Cândido).

Mais informações em:
– Horto Botânico. Museu Nacional Rio de Janeiro. Disponível em:
https://museunacional.ufrj.br/hortobotanico/aves/Caracaraplancus.html

– Carcará. Disponível em: https://www.wikiaves.com.br/wiki/carcara

Pirá-santana

O pirá-santana (Simpsonichthys santanae) é um lindo e colorido peixinho-anual que atinge pouco mais de 3 centímetros de comprimento e é endêmico da região do Cerrado, ou seja, existe nesse local e em nenhum outro em todo planeta. Ele tem sua distribuição restrita à porção superior da drenagem do rio Paraná, vivendo em poças temporárias dentro das matas de galeria do Cerrado. Todas as espécies de peixes conhecidos como anuais ocorrem em alagados temporários, que ficam completamente secos durante uma época do ano. Isso é possível, pois os peixes-anuais depositam seus ovos na lama do fundo do corpo d’água durante a estação de maior chuva. Quando o alagado seca por completo, todos os peixes morrem, mas os ovos permanecem no solo sem completar seu desenvolvimento. Quando a estação chuvosa reinicia e as poças enchem d’água novamente, os ovos dos peixes-anuais retomam seu desenvolvimento e eclodem, formando uma nova população no local. E é por isso que muitos pensam que esses peixes caem junto com a chuva e deram a eles o apelido de peixes-das-nuvens! Infelizmente, como ocorrem em locais bem restritos, são sensíveis à poluição e muitas vezes são objeto da pesca para aquariofilia, a maioria das espécies de peixes-anuais, assim como o pirá-santana do Cerrado, estão ameaçados de extinção. 

Mais informações em: 
– Wilson J. E. M. COSTA. W. J. E. M. 2007 Taxonomic revision of the seasonal South American killifish genus Simpsonichthys (Teleostei: Cyprinodontiformes: Aplocheiloidei: Rivulidae). Zootaxa 1669: 1-134, http://www.zoobank.org/urn:lsid:zoobank.org:pub:F23FABE8-719E-4F7E-B225-A9C5D45CCFCE

Pererecas-dos-flancos-reticulados

Esse grupo de anfíbios lindos, de cor verde-brilhante e laterais do corpo com desenhos em tons de laranja, tem quatro espécies que ocorrem somente no Cerrado, são endêmicas das regiões de altitude desse bioma: Pithecopus ayeaye, Pithecopus centralis, Pithecopus oreades e Pithecopus megacephalus. Infelizmente, as pererecas têm sofrido perda de hábitat causada pela mineração, silvicultura, pecuária, incêndios e turismo insustentável na sua região de ocorrência, integrando atualmente as listas de espécies ameaçadas de extinção. Conservar os hábitats das pererecas-dos-flancos-reticulados é também conservar nascentes e uma série de outros animais e plantas associados a elas, fazendo das pererecas espécies emblemáticas para a manutenção do Cerrado.

Mais informações em: 
– OECO. Conservando as pererecas-de-flancos-reticulados das montanhas do Brasil Central. Disponível em:
https://oeco.org.br/colunas/conservando-as-pererecas-de-flancos-reticulados-das-montanhas-do-brasil-central/

Araticum, árvore do Cerrado

O araticum (Annona crassiflora) é uma árvore típica das áreas secas e arenosas do Cerrado. Ela ocorre, normalmente, em áreas secas e arenosas, tem crescimento lento, pode atingir oito metros de altura e é resistente ao fogo. É polinizada por besouros e suas sementes são dispersadas principalmente por mamíferos, tendo plantio recomendado tanto por semeadura direta quanto por mudas. O nome “araticum” deriva do tupi: árvore rija e dura, fruto do céu, saboroso, ou ainda fruto mole. Este fruto de polpa amarelada, viscosa e mole é bastante conhecido e muito apreciado ao natural ou em doces, sucos e sorvetes. A casca grossa e resistente à seca do araticum é utilizada como cortiça e comunidades tradicionais fazem também uso medicinal dessa árvore, que tem propriedades antioxidantes cientificamente comprovadas.

Cerratinga.  https://www.cerratinga.org.br/especies/araticum/
Ribeiro, J. F., et al. 2023. Guia de plantas do cerrado para recomposição da vegetação nativa. 2. ed. Rev. Ampl. Embrapa, Brasília, DF.

Serviços Ecossistêmicos

O que são os Serviços Ecossistêmicos?

O termo serviços ecossistêmicos  foi criado para identificar os benefícios que os seres humanos obtêm direta ou indiretamente a partir do funcionamento dos ecossistemas, os quais são essenciais ao seu bem-estar e, em última instância, à sua sobrevivência.

Os serviços ecossistêmicos são identificados em categorias:

  • serviços de suporte – tais como a formação de solo, fotossíntese e ciclagem de nutrientes;
  • serviços de abastecimento e provisão – tais como disponibilização de alimentos, água, madeira;
  • serviços de regulação – tais como regulação do clima, controle de doenças, de resíduos e qualidade da água;
  • serviços culturais ou imateriais – tais como benefícios recreativos, estéticos e espirituais.

Os seres humanos são partes integrantes dos ecossistemas e existe uma interação dinâmica entre estas duas partes: seres humanos e “natureza”.

E o que popularmente se nomeia “natureza” é a biodiversidade e o meio físico que nos cercam! É a diversidade de seres vivos integrantes de cada ecossistema, que mantém a sua estabilidade, sustentabilidade e todas as suas funcionalidades.

Fatores sociais, econômicos e culturais não relacionados aos ecossistemas alteram a condição humana, da mesma forma que muitas forças naturais influenciam de forma intrínseca os ecossistemas. Entretanto, é também evidente que a humanidade e suas interações com os ecossistemas estão diretamente envolvidas  com os serviços ecossistêmicos não apenas por sua demanda, mas também – e talvez principalmente – pelo efeito de suas ações na efetividade e manutenção destes serviços.

Um ecossistema em equilíbrio provê uma gama quase inumerável de benefícios, ou serviços, à espécie humana. Enquanto um ecossistema alterado, especialmente aquele que apresenta grandes perdas em sua diversidade biológica, favorece alguns poucos serviços, e expõe as populações humanas à carência de tantos outros.

O reconhecimento do conceito e do papel dos serviços ecossistêmicos coloca em foco nossos ativos naturais como componentes essenciais da geração de uma riqueza inclusiva, de bem-estar e de sustentabilidade, reformulando a relação entre a espécie humana e a biodiversidade. Ele traz a compreensão de que sustentar e melhorar o bem-estar humano requer um equilíbrio de todos os nossos ativos – indivíduos, sociedade, economia e ecossistemas. Este novo olhar sobre a biodiversidade e o que ela compõe, que estima a magnitude das contribuições dos serviços ecossistêmicos, é essencial na formulação de estratégias para o desenvolvimento de um futuro sustentável e desejável para a humanidade.

Serviços ecossistêmicos do Cerrado

O Cerrado, com toda sua extensão e enorme biodiversidade, fornece uma gama importantíssima de serviços ecossistêmicos, os quais são fundamentais não apenas em uma escala local, para as populações que nele habitam, mas também em escala nacional e global em termos de manutenção de mananciais, produção de alimentos e regulação climática.

Dentre as categorias de serviços ecossistêmicos, podemos listar como serviços oferecidos pelo Cerrado:

Serviços de Suporte: solo fértil mesmo durante a estação seca característica do bioma; fixação de carbono; proteção das nascentes dos rios formadores das principais bacias hidrográficas da América do Sul; dispersão de sementes para manutenção do bioma.

Serviços de Provisão: frutos diversos característicos do Cerrado; estoque pesqueiro diverso e abundante; matéria prima para artesanato que sustenta comunidades tradicionais (por exemplo, o capim-dourado); energia de fontes renováveis como água (energia hidroelétrica), o vento (energia eólica), o sol (energia solar).

Serviços de Regulação: formações florestais associadas aos corpos d’água do Cerrado previnem erosão e assoreamento de rios, mantendo a vazão hidrológicas das grandes bacias brasileiras; vegetação resistente ao clima seco do bioma sombreia o solo mantendo umidade relativa do ar em condições menos críticas durante a estação de chuvas escassas; controle biológico natural previne infestações de pragas em cultivos; polinização por abelhas, borboletas e outros insetos, aves e morcegos, provendo a produção de frutos e sementes tanto para a vegetação silvestre quanto para os cultivos humanos.

Serviços Imateriais: paisagem savânica típica do Brasil; cultivos de alimentos tradicionais; produção de artesanato único e específico da região; conhecimento de plantas medicinais; locais para turismo em chapadas, serras e paisagens do Cerrado.

Um Cerrado devastado não entrega seus serviços ecossistêmicos às populações humanas, traz mais seca ao Planalto Central do Brasil, impedindo cultivos, criação de animais e diminuindo a resiliência ambiental aos eventos climáticos extremos, potencializando catástrofes que afetam cidades e populações humanas. Um Cerrado devastado leva à perda de atividades humanas que promovem o bem-estar, à perda de culturas e conhecimentos tradicionais das populações que residem e sobrevivem deste bioma brasileiro, e à perda de parte importante da identidade paisagística e histórica dos brasileiros.

Mais informações em:
R. Costanza, R. deGroot, L. Braat, I. Kubiszewski, L. Fioramonti, P. Sutton, S. Farber, M. Grasso Twenty years of ecosystem services: how far have we come and how far do we still need to go? Ecosyst. Serv., 28 (2017), pp. 1-16

https://onehealthbrasil.com

Capital Natural, Serviços Ecossistêmicos e Sistema Econômico: rumo a uma “Economia dos Ecossistemas”. Daniel Caixeta Andrade1 Ademar Ribeiro Romeiro

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